quarta-feira, 29 de agosto de 2012

da conversa entre Clarice e Tom Jobim

C : - É que eu sinto que nós chegamos ao limiar de portas que estavam abertas - e por medo ou pelo que não sei, não atravessamos plenamente essas portas. Que no entanto têm nelas já gravado nosso nome. Cada pessoa tem uma porta com seu nome gravado, Tom, e é só através dela que essa pessoa perdida pode entrar e se achar.

T: - Batei e abrir-se-vos-á. 

terça-feira, 28 de agosto de 2012

pra lá


"tem dias que eu
não vejo o azul do céu.
mas sei que ele está lá"
- disse-me o passarinho,
durante um sonho.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

exagerado

e Cazuza dizia: tenho amor incondicional pelas pessoas que entram em minha vida e sinceramente, não sei o quanto isso é bom nos dias atuais. talvez esse seja o meu pior defeito. 


quarta-feira, 8 de agosto de 2012

manual de instruções

"A tarefa de amolecer diariamente o tijolo, a tarefa de abrir caminho na massa pegajosa que se proclama mundo, esbarrar cada manhã com o paralelepípedo de nome repugnante, com a satisfação canina de que tudo esteja em seu lugar, a mesma mulher ao lado, os mesmos sapatos e o mesmo sabor da mesma pasta de dentes, a mesma tristeza(...). E não é mau que as coisas nos encontrem outra vez todo dia e sejam as mesmas. Que a nosso lado esteja a mesma mulher, o mesmo relógio e que o romance aberto em cima da mesa comece a andar outra vez na bicicleta de nossos óculos, por que haveria de ser mau? Mas como um touro triste é preciso baixar a cabeça, do centro do tijolo de cristal empurrar para fora, em direção ao outro tão perto de nós, inacessível como o toureiro tão perto do touro. Castigar os olhos fitando isso que anda no céu e aceita astuciosamente seu nome de nuvem, sua resposta catalogada na memória. Não pense que o telefone vai lhe dar os números que procura. Por que haveria de dá-los? Virá somente o que você tem preparado e resolvido, o triste reflexo de sua esperança, esse macaco que se coça em cima de uma mesa e treme de frio. Quebre a cabeça desse macaco, corra do centro em direção à parede e abra caminho. (...) E se de repente uma traça para pertinho de um lápis e palpita como um fogo cinzento, olhe-a, eu a estou olhando, estou apalpando seu coração pequenino, e ouço-a: essa traça ressoa na pasta de cristal congelado, nem tudo está perdido". 

Julio Cortázar