segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

globa(na)lização do afeto




Enganava-se. Já haviam dito que pensar não era fácil, nunca seria. Porque então insistia em dizer que esse era o melhor caminho? Talvez isso trouxesse à tona o que estava ali, guardado a sete chaves naquele labirinto profundo, em cada palpitação intensa do seu coração. Certamente também não seria tarefa fácil tirar isso do inconsciente e deixar chegar aos olhos.  Mas ela sabia que tudo o que tinha vivido não poderia ser deixado de lado. No fundo insistia em fazê-los pensar por ter a certeza que não esqueceriam tão cedo de tudo o que haviam dito. Ou não dito, o que era ainda mais simbólico. Ela sabia, e não porque era leitora assídua de poesia, mas porque tinha a esperança de que todas aquelas conversas, todas aquelas risadas e aqueles carinhos reprimidos nunca fossem esquecidos.  Sempre disseram para que tomasse cuidado, pois as coisas sempre mudam e bla bla - e ela nunca foi acostumada com isso. Mas dessa vez era diferente, dizia ela. Tinha a certeza de ter conseguido plantar uma semente, mesmo que demorasse muito tempo para nascer. Estava cansada e descrente, e não pelas mudanças, mas pela maneira com que tudo estava acontecendo. Calma, pensava. Algumas flores demoram a brotar e não é por falta de água. Elas têm medo da luz. 


T.O.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

a casa das palavras



"na casa das palavras, sonhou Helena Villagra, chegavam os poetas. As 
palavras, guardadas em velhos frascos de cristal, esperavam pelos poetas e se 
ofereciam, loucas de vontade de ser escolhidas: elas rogavam aos poetas que as 
olhassem, as cheirassem, as tocassem, as provassem. Os poetas abriam os frascos, 
provavam palavras com o dedo e então lambiam os lábios ou fechavam a cara. Os 
poetas andavam em busca de palavras que não conheciam, e também buscavam 
palavras que conheciam e tinham perdido."

um dia eu re(encontro).