sexta-feira, 18 de outubro de 2013

ex perança


Escorriam algumas lágrimas pelo rosto especificamente no momento em que eu assistia a um vídeo de Facebook sobre "o respeito que todos deveriam ter". Tá certo que me fazer chorar não é assim uma missão tão árdua, mas eu sabia que ver imagens emocionantes justo naquele dia intenso e àquela hora da madrugada, poderia ser um sinal para que não me preocupasse tanto, pois tudo não estava tão perdido assim. Ok, entra aqui um certo sentimentalismo que os discursos do próprio Facebook ajudam a alimentar, seja nos posts sobre a moça que ajudou a achar um menino desaparecido ou nas filmagens de um cachorro brincando com um bebê deficiente. No fundo eu gosto de assistir a esses vídeos, talvez porque trazem à tona essa sensação de que existem pelo mundo coisas que valem a pena. Infelizmente, durante esses dias, as lágrimas emocionadas de ver um jogador de futebol entregando uma camiseta para um moço em cadeira de rodas ou ainda um lutador de UFC preocupado com um golpe forte que deu em seu adversário, não seriam suficientes para que esquecesse a quantidade de imagens tristes e situações revoltantes da semana. Às vezes sinto como se a humanidade tivesse parado no tempo - ainda que o tempo não a deixe parar - ou pior, retrocedido muitos anos. 


Ver a violência nas suas mais variadas formas não tem sido uma tarefa agradável, eu diria que é praticamente intragável. Anteontem meu primo foi detido no ato que fazia parte do Dia Nacional pela Educação, depois de sofrer grandes ataques de bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo pela polícia. No Rio de Janeiro, também em protesto em apoio à greve do educadores, um policial grita "Eu vou largar o aço pra dentro de vocês, ein?" 
Ver algumas opiniões sobre o vídeo do policial que dá um tiro e mata o homem de moto que tenta roubá-lo, me trouxe um indesejável espanto. "Tem que matar mesmo", diziam alguns muitos pelas redes. Ver a quantidade de discursos machistas por causa de uma menina que teve sua privacidade exposta na internet, me trouxe momentos de extrema revolta interna e vontade de xingar muitos hipócritas das redes sociais. Ouvir de colegas que os vagabundos da USP estão fazendo greve de novo porque não querem ter aula enquanto o povo paga a sua faculdade, me fez sentir asco do individualismo que a cada dia se torna mais gritante nessa sociedade. Ultimamente, vivo esperando.

E eu não diria que espero algo desse esperar, por mais pessimista que isso possa parecer pra uma pessoa de vinte de três anos de idade. Aliás, eu tenho uma mania ingênua de achar que tudo tem um lado bom, também um gosto praticamente masoquista por relevar situações que me chateiam, quase que tonta por decreto. Mas isso, ultimamente, tem trazido momentos de reflexão reais. De fato, vivemos esperando. Esperando pelo dia em que não será preciso dizer para as pessoas que não é legal ser violento, e ainda ter que explicar a violência não é só aquela traduzida em sangue. Que o machismo é violência, preconceito é violência, egoísmo é violência. Parece um discurso daqueles que meu professor de Ensino Religioso fazia na quinta série, e de fato se assemelha bastante. E parece que uma quantidade enorme de pessoas faltou nessas aulas. 

Vivemos esperando pelo momento em que será possível fazer uma reunião de amigos sem ter que esperar dois meses para que cada um possa resolver seus problemas particulares com o tempo - que não espera. Esperando pelo dia em que vamos poder usufruir dos oitocentos reais que ganhamos trabalhando oito horas por dia com vinte anos de idade. Esperando não esperar tanto das pessoas, o que poderia diminuir a frustração quando aquela ligação prometida não vem e você se sente um alguém indiferente. Esperando a liberdade sexual, o sentir-se bem por ser quem é, o dia em que não vai acordar mal por não estar trabalhando e ganhando dinheiro, mas só estudando e terminando a segunda graduação. Esperando uma reação normal, livre de caretas, quando se diz que faz Pedagogia e quer montar uma banda ou ensinar música para crianças. 

Enquanto esse dia não chega, não tem problema assistir aos vídeos que tentam praticamente implantar um pouco de esperança pra isso tudo. Pelo menos me deixem pensar assim. O Ronaldinho Gaúcho nunca vai ler esse texto, mas talvez ficasse assustado em saber que vê-lo sendo homenageado por um time rival ou entregando sua camiseta suada para um moço deficiente me fez derramar algumas lágrimas. Talvez ele dissesse que eu sou/estou muito frágil ou quem sabe de TPM. Afinal, essas atitudes não deveriam causar espanto ou serem motivos de glorificação, mas sim princípios básicos do ser humano. Ainda assim, tudo bem, ao invés de ir dormir assistindo um PM dando tiro nos manifestantes, preferi ver o vídeo dos cachorros fazendo coisas incríveis e fofas, quase como "seres humanos", ainda que a comparação não seja justa. Cães são muito mais interessantes e amorosos.